"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Não a Ti, Cristo, odeio ou menosprezo - Ricardo Reis

Não a Ti, Cristo, odeio ou menosprezo


Que aos outros deuses que te precederam

Na memória dos homens.

Nem mais nem menos és, mas outro deus.



No Panteão faltavas. Pois que vieste

No Panteão o teu lugar ocupa,

Mas cuida não procures

Usurpar o que aos outros é devido.



Teu vulto triste e comovido sobre

A 'steril dor da humanidade antiga

Sim, nova pulcritude

Trouxe ao antigo Panteão incerto.



Mas que os teus crentes te não ergam sobre outros,

antigos deuses que dataram Por filhos de Saturno

De mais perto da origem igual das coisas.

E melhores memórias recolheram



Do primitivo caos e da Noite Onde os deuses não são

Mais que as estrelas súbditas do Fado.

Tu não és mais que um deus a mais no eterno

Não a ti, mas aos teus, odeio, Cristo.



Panteão que preside

À nossa vida incerta.

Nem maior nem menor que os novos deuses,

Tua sombria forma dolorida

Trouxe algo que faltava

Ao número dos divos.

Por isso reina a par de outros no Olimpo,



Ou pela triste terra se quiseres

Vai enxugar o pranto

Dos humanos que sofrem.

Não venham, porém, 'stultos teus cultores

Em teu nome vedar o eterno culto

Das presenças maiores



Ou parceiras da tua.

A esses, sim, do âmago eu odeio

Do crente peito, e a esses eu não sigo,

Supersticiosos leigos

Na ciência dos deuses.

Ah, aumentai, não combatendo nunca.



Enriquecei o Olimpo, aos deuses dando

Cada vez maior força

P'lo número maior.

Basta os males que o

Fado as Parcas fez

Por seu intuito natural fazerem.

Nós homens nos façamos Unidos pelos deuses.

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