"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Eu, o Lobo da Estepe... Hermann Hesse

Eu, o Lobo da Estepe, vago errante


pelo mundo de neve recoberto;

um corvo sai de uma árvore, adejando,

mas não há corças por aqui, nem lebres!

Vivo ansiando por achar a corça,

ah! se eu desse com uma!

Tê-la em meus dentes, entre as minhas garras,

nada seria para mim tão belo.

Havia de tratá-la tão cordial,

de cravar-lhe nas ancas os meus dentes,

beber-lhe o sangue até a saciedade

a uivar depois na noite solitário.

Contentava-me mesmo com uma lebre!

Na noite sabe bem a carne flácida.

Por que de mim há de afastar-se tudo

quanto faz esta vida mais alegre?

Em minha cauda o pêlo está grisalho

e também já não vejo as coisas nítidas;

há muito que morreu a minha esposa

e vivo a errar sonhando corças,

ansiando lebres,

ouço o vento soprar na noite fria

com neve aplaco o fogo da garganta

e levo para o diabo a minha alma.

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