"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

sexta-feira, 7 de maio de 2010

INVERNO - Cecília Meireles

CHOVEU tanto sôbre o teu peito


que as flores não podem estar vivas

e os passos perderam a fôrça

de buscar estradas antigas.

Em muita noite houve esperanças

abrindo as asas sôbre as ondas.

Mas o vento era tão terrível!

Mas as águas eram tão longas!

Pode ser que o sol se levante

sôbre as tuas mãos sem vontade

e encontres as coisas perdidas

na sombra em que as abandonaste.

Mas quem virá com as mãos brilhantes

trazendo o seu beijo e o teu nome,

para que saibas que és tu mesmo,

e reconheças o teu sonho?

A primavera foi tão clara

que se viram novas estrêlas,

e soaram no cristal dos mares,

lábios azues de outras sereias.

Vieram, por ti, músicas límpidas,

trançando sons de ouro e de sêda.

Mas teus ouvidos noutro mundo

desalteravam sua sêde.

Cresceram prados ondulantes

e o céu desenhou novos sonhos,

e houve muitas alegorias

navegando entre Deus e os homens.

Mas tu estavas de olhos fechados

prendendo o tempo em teu sorriso.

E em tua vida a primavera

não poude achar nenhum motivo...

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