"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Morte Idealista - E. W.

Estou sobre a terra, onde

toda folha é morta.

Olhando para cima, vejo

o céu azul e o vento

toca levemente o rosto.



A chuva parou a pouco tempo,

a terra ainda está molhada,

um agradável perfume ficou.

Observo as flores ao meu lado

tão livres, belas de tranqüila vida.



A única coisa que estou a ouvir,

é a música orquestral da natureza.

Não muito distante ouço o riacho

onde a água pura corre entre rochas,

- melodia mais bonita de todas as músicas.



Os insetos na terra, no ar e nas plantas,

produzem ruídos suaves

que acompanham a melodia.

As aves cantam em capella, ouça

que inocente beleza!



Estou a escutar a essência da arte,

a música da vida e da morte,

é a música do renascimento.

Natureza que morre - é morta

e sempre volta, se transforma.



A água corre e evapora,

liquidifica, congela, funde-se,

percorre todas as distancias

que há no mundo e sobre ele,

e nunca deixa de existir.



Invejo os vermes que moram nesta terra,

quem me dera morrer agora e aqui apodrecer,

tornar-me verme e viver neste sossego.

E quem sabe após isto ter a sorte

em tornar-me alimento de uma ave,

ter então a suprema felicidade

de plainar sobre esta natureza,

e cantar junto aos meus iguais.

Quando a vida de pássaro terminar,

ser verme e pássaro outra vez!



Ah, quem me dera?!



Penso então, imagine como

é a alegria graciosa de ser:

Borboleta!

Voar suavemente entre lindas flores, 23

e alimentar-se do seu doce néctar.



Sempre tive enorme afeição

por animais delicados e que podem voar.

Não desejo ser grande, nem fera

pois já me basta ser humana,

a fera mais cruel que existe.



Qualquer outro animal que aqui vive,

qualquer planta que aqui existe,

quem me dera ser um de vocês!

Qualquer outro, mas não o infortúnio

de ser humana... demasiada humana!



Quem me dera poder parar o tempo?!

Quero para-lo neste exato momento,

e por toda a eternidade

não ter de ir embora daqui!



Vou até o riacho

pedir a água que leve

para longe de mim todo

o sofrimento que carrego...



Vou então aqui cavar minha cova,

para morrer dentro dela tranqüila.

Vou morrer ouvindo a música orquestral,

acompanhando o canto dos pássaros,

no ritmo que minha vida se vai lentamente.



A música não é triste nem alegre.

É a música da vida e da morte,

é a musica do renascimento!

Meu corpo quase morto,

e os vermes aguardam ao lado.



Dou adeus a esta vida sorrindo.



Sorrindo!



A música está se tornando mais lenta,

mais lenta... mais lenta... lentamente...



Escuro.

Silêncio.

Durmo.

Acórdo.

Meu corpo está morto.

Não sinto.

Não ajo.

Mas vejo,

e escuto

a música – danço.

Nem alegre nem triste – tudo.

Nem morta nem viva, nem céu nem inferno.



Bailo pelo ar – levito.

Não existe tempo,

não existe dor,

não existe amor, 24

mal lembro o que sou.



Na página branca de minha lembrança

há apenas uma frase escrita:

- Deste lugar não quero ir embora.



Agora, olhando o rosto na cova

que sorri morto, sem que eu entenda

sinto uma alegria instantânea.



Como se eu e o corpo estivéssemos felizes

por estarmos separados, e o que queríamos

nós o temos, finalmente!

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