Estou sobre a terra, onde
toda folha é morta.
Olhando para cima, vejo
o céu azul e o vento
toca levemente o rosto.
A chuva parou a pouco tempo,
a terra ainda está molhada,
um agradável perfume ficou.
Observo as flores ao meu lado
tão livres, belas de tranqüila vida.
A única coisa que estou a ouvir,
é a música orquestral da natureza.
Não muito distante ouço o riacho
onde a água pura corre entre rochas,
- melodia mais bonita de todas as músicas.
Os insetos na terra, no ar e nas plantas,
produzem ruídos suaves
que acompanham a melodia.
As aves cantam em capella, ouça
que inocente beleza!
Estou a escutar a essência da arte,
a música da vida e da morte,
é a música do renascimento.
Natureza que morre - é morta
e sempre volta, se transforma.
A água corre e evapora,
liquidifica, congela, funde-se,
percorre todas as distancias
que há no mundo e sobre ele,
e nunca deixa de existir.
Invejo os vermes que moram nesta terra,
quem me dera morrer agora e aqui apodrecer,
tornar-me verme e viver neste sossego.
E quem sabe após isto ter a sorte
em tornar-me alimento de uma ave,
ter então a suprema felicidade
de plainar sobre esta natureza,
e cantar junto aos meus iguais.
Quando a vida de pássaro terminar,
ser verme e pássaro outra vez!
Ah, quem me dera?!
Penso então, imagine como
é a alegria graciosa de ser:
Borboleta!
Voar suavemente entre lindas flores, 23
e alimentar-se do seu doce néctar.
Sempre tive enorme afeição
por animais delicados e que podem voar.
Não desejo ser grande, nem fera
pois já me basta ser humana,
a fera mais cruel que existe.
Qualquer outro animal que aqui vive,
qualquer planta que aqui existe,
quem me dera ser um de vocês!
Qualquer outro, mas não o infortúnio
de ser humana... demasiada humana!
Quem me dera poder parar o tempo?!
Quero para-lo neste exato momento,
e por toda a eternidade
não ter de ir embora daqui!
Vou até o riacho
pedir a água que leve
para longe de mim todo
o sofrimento que carrego...
Vou então aqui cavar minha cova,
para morrer dentro dela tranqüila.
Vou morrer ouvindo a música orquestral,
acompanhando o canto dos pássaros,
no ritmo que minha vida se vai lentamente.
A música não é triste nem alegre.
É a música da vida e da morte,
é a musica do renascimento!
Meu corpo quase morto,
e os vermes aguardam ao lado.
Dou adeus a esta vida sorrindo.
Sorrindo!
A música está se tornando mais lenta,
mais lenta... mais lenta... lentamente...
Escuro.
Silêncio.
Durmo.
Acórdo.
Meu corpo está morto.
Não sinto.
Não ajo.
Mas vejo,
e escuto
a música – danço.
Nem alegre nem triste – tudo.
Nem morta nem viva, nem céu nem inferno.
Bailo pelo ar – levito.
Não existe tempo,
não existe dor,
não existe amor, 24
mal lembro o que sou.
Na página branca de minha lembrança
há apenas uma frase escrita:
- Deste lugar não quero ir embora.
Agora, olhando o rosto na cova
que sorri morto, sem que eu entenda
sinto uma alegria instantânea.
Como se eu e o corpo estivéssemos felizes
por estarmos separados, e o que queríamos
nós o temos, finalmente!
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