"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

domingo, 6 de fevereiro de 2011

"Quem agora chora em algum lugar do mundo,

Sem razão chora no mundo,

Chora por mim.



Quem agora ri em algum lugar na noite,

Sem razão ri dentro da noite,

Ri-se de mim.



Quem agora caminha em algum lugar no mundo,

Sem razão caminha no mundo,

Vem a mim.



Quem agora morre em algum lugar no mundo,

Sem razão morre no mundo,

Olha para mim."


"poeta vai-te para longe de mim, hora.

o bater de tuas asas me excrucia.

mas de minha boca, que fazer agora ?

e da minha noite ? e do meu dia ?



eu não tenho amada nem abrigo,

sequer um lugar para viver eu tenho.

todas as coisas em que me empenho

tornam-se opulentas e acabam comigo"



"Uma árvore surgiu. Ascensão pura!

Orfeu canta! A árvore é toda ouvidos.

Tudo cala. Mas, da calma obscura,

nasce um começo; muda o sentido.



Os animais saíram do transparente

bosque, deixaram ninho e covil;

Então, o que se viu, foi que nem por ardil

nem por medo ficavam silentes:



tudo era ouvir. Uivar, gritar, bramir: não.

Só a melodia. Onde antes

mal havia choça a receber o canto,



agora há um abrigo de forte quebranto,

com portais de colunas vibrantes;

ali criaste-lhes um templo da audição"


"Respirar-te inteiro - poema aceso!

Pedaço do mundo, sempre em seguro

equilíbrio mesmo. Contrapeso,

no qual, com ritmo, perduro.



Onda única em cujo mar,

moroso e sereno, fui transformado;

tu, o mais raso dos mares, meu lugar:

espaço por fim conquistado.



Quantos pontos deste espaço estiveram assim

dentro de mim? Algumas brisas

e ventos são como filhos para mim.



Conheces-me, ar, ainda pleno de melodia?

Tu, pura casca outrora lisa,

curvatura e folha de minha poesia."
 
 
 
"Apaga-me os olhos, ainda posso ver-te.

Tranca-me os ouvidos, ainda posso ouvir-te,

e sem pés posso ainda ir para ti,

e sem boca posso ainda invocar-te.

Quebra-me os ossos, e posso apertar-te

com o coração como com a mão,

tapa-me o coração, e o cérebro baterá,

e se me deitares fogo ao cérebro,

hei-de continuar a trazer-te no sangue..."
 
 
"Estão prontos, ali, como a esperar

que um gesto só, ainda que tardio,

possa reconciliar com tanto frio

os corpos e um ao outro harmonizar;



como se algo faltasse para o fim.

Que nome no seu bolso já vazio

há por achar? Alguém procura, enfim,

enxugar dos seus lábios o fastio:



em vão; eles só ficam mais polidos.

A barba está mais dura, todavia

ficou mais limpa ao toque do vigia,



para não repugnar o circunstante.

Os olhos, sob a pálpebra, invertidos,

olham só para dentro, doravante."



"As folhas caem como se do alto

caíssem, murchas, dos jardins do céu;

caem com gestos de quem renuncia.



E a Terra, só, na noite de cobalto,

cai de entre os astros na amplidão vazia.



Caímos todos nós. Cai esta mão.

Olha em redor: cair é a lei geral.



E a terna mão de Alguém colhe, afinal,

todas as coisas que caindo vão."


"Com um mover da fronte ele descarta

tudo o que obriga, tudo o que coarta,

pois em seu coração, quando ela o adentra,

a eterna Vinda os círculos concentra.



O céu com muitas formas Ihe aparece

e cada qual demanda: vem, conhece -.

Não dês às suas mãos ligeiras nem

um só fardo; pois ele, à noite, vem



à tua casa conferir teu peso,

cheio de ira, e com a mão mais dura,

como se fosses sua criatura,

te arranca do teu molde com desprezo"
 
 
 
"O mundo estava no rosto da amada -

e logo converteu-se em nada, em

mundo fora do alcance, mundo-além.



Por que não o bebi quando o encontrei

no rosto amado, um mundo à mão, ali,

aroma em minha boca, eu só seu rei?



Ah, eu bebi. Com que sede eu bebi.

Mas eu também estava pleno de

mundo e, bebendo, eu mesmo transbordei"
 
R.M.R.

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