"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

A Canção do Suicida


Só mais um momento.

Que voltem sempre a cortar-me

a corda.

Há pouco estava tão preparado

e havia já um pouco de eternidade

nas minhas entranhas.


Estendem-me a colher,

esta colher de vida.

Não, quero e já não quero,

deixem-me vomitar sobre mim.


Sei que a vida é boa

e que o mundo é uma taça cheia,

mas a mim não me chega ao sangue,

a mim só me sobe à cabeça.


Aos outros alimenta-os, a mim põe-me doente;

compreendei que há quem a despreze.

Durante pelo menos mil anos

preciso agora fazer dieta.




“Tem paciência com tudo não resolvido em teu coração e tenta amar as perguntas em ti, como se fossem quartos trancados ou livros escritos em idioma estrangeiro. Não pesquises em busca de respostas que não te podem ser dadas, porque tu não as podes viver, e trata-se de viver tudo. Vive as grandes perguntas agora. Talvez, num dia longínquo, sem o perceberes, te familiarizes com a resposta.”


A Pantera

No Jardin des Plantes, Paris


De tanto olhar as grades seu olhar

esmoreceu e nada mais aferra.

Como se houvesse só grades na terra:

grades, apenas grades para olhar.



A onda andante e flexível do seu vulto

em círculos concêntricos decresce,

dança de força em torno a um ponto oculto

no qual um grande impulso se arrefece.



De vez em quando o fecho da pupila

se abre em silêncio. Uma imagem, então,

na tensa paz dos músculos se instila

para morrer no coração.


"Quero viver como se o meu tempo fosse ilimitado. Quero me recolher, me retirar das ocupações efêmeras. Mas ouço vozes, vozes benevolentes, passos que se aproximam e minhas portas se abrem..."


O Solitário

Não: uma torre se erguerá do fundo

do coração e eu estarei à borda:

onde não há mais nada, ainda acorda

o indizível, a dor, de novo o mundo.



Ainda uma coisa, só, no imenso mar

das coisas, e uma luz depois do escuro,

um rosto extremo do desejo obscuro

exilado em um nunca-apaziguar,



ainda um rosto de pedra, que só sente

a gravidade interna, de tão denso:

as distâncias que o extinguem lentamente

tornam seu júbilo ainda mais intenso.


"Se o cotidiano lhe parece pobre, não o acuse: acuse-se a si próprio de não ser muito poeta para extrair as suas riquezas."



Dia de Outono


Senhor: é mais que tempo. O verão foi muito intenso.

Lança a tua sombra sobre os relógios de sol

e por sobre as pradarias desata os teus ventos.



Ordena às últimas frutas que fiquem maduras,

dá-lhes ainda mais uns dois dias de calor,

leva-as à completude e não deixes de pôr

no vinho pesado sua última doçura.



Quem não tem casa não a irá mais construir.

Quem está sozinho vai ficá-lo ainda mais.

Insone, há de ler, escrever cartas torrenciais

e correr as aléias num inquieto ir-e-vir

enquanto o vento carrega as folhas outonais.


Solidão

A solidão é como uma chuva.

Ergue-se do mar ao encontro das noites;

de planícies distantes e remotas

sobe ao céu, que sempre a guarda.

E do céu tomba sobre a cidade.


Cai como chuva nas horas ambíguas,

quando todas as vielas se voltam para a manhã

e quando os corpos, que nada encontraram,

desiludidos e tristes se separam;

e quando aqueles que se odeiam

têm de dormir juntos na mesma cama:

então, a solidão vai com os rios...


“Faz-se cada vez mais raro o desejo de ter uma morte particular. Mais um pouco, e será tão raro quanto ter uma vida particular. Meu Deus: tudo isso está aí. A gente chega, encontra a vida pronta, basta vesti-la.”
 
 
O Homem que Lê


Eu lia há muito. Desde que esta tarde

com o seu ruído de chuva chegou às janelas.

Abstraí-me do vento lá fora:

o meu livro era difícil.

Olhei as suas páginas como rostos

que se ensombram pela profunda reflexão

e em redor da minha leitura parava o tempo. —

De repente sobre as páginas lançou-se uma luz

e em vez da tímida confusão de palavras

estava: tarde, tarde... em todas elas.

Não olho ainda para fora, mas rasgam-se já

as longas linhas, e as palavras rolam

dos seus fios, para onde elas querem.

Então sei: sobre os jardins

transbordantes, radiantes, abriram-se os céus;

o sol deve ter surgido de novo. —

E agora cai a noite de Verão, até onde a vista alcança:

o que está disperso ordena-se em poucos grupos,

obscuramente, pelos longos caminhos vão pessoas

e estranhamente longe, como se significasse algo mais,

ouve-se o pouco que ainda acontece.



E quando agora levantar os olhos deste livro,

nada será estranho, tudo grande.

Aí fora existe o que vivo dentro de mim

e aqui e mais além nada tem fronteiras;

apenas me entreteço mais ainda com ele

quando o meu olhar se adapta às coisas

e à grave simplicidade das multidões, —

então a terra cresce acima de si mesma.

E parece que abarca todo o céu:

a primeira estrela é como a última casa.



“Versos não são, como as pessoas imaginam, sentimentos --são experiências. E por causa de um verso é preciso ver muitas cidades, pessoas e coisas, é preciso conhecer bichos, é preciso sentir como voam os pássaros, e saber com que gestos flores diminutas se abrem ao amanhecer.”




Recordação


E tu esperas, aguardas a única coisa

que aumentaria infinitamente a tua vida;

o poderoso, o extraordinário,

o despertar das pedras,

os abismos com que te deparas.



Nas estantes brilham

os volumes em castanho e ouro;

e tu pensas em países viajados,

em quadros, nas vestes

de mulheres encontradas e já perdidas.



E então de súbito sabes: era isso.

Ergues-te e diante de ti estão

angústia e forma e oração

de certo ano que passou.

    
                                                                      Rainer Maria Rilke






domingo, 10 de outubro de 2010

VALOR. - E.W.

Nada tocam teus dedos finos,

Nada imploram teus lábios frios.

Teus pés já cansados, calejados,

Dos círculos, o fim é o início.


O tempo passa, os rostos ficam

A saudade é o alimento, amam

Os que ficam e que vão,

Lágrimas por quem foi envão.


A natureza do homem de alma negra

É límpida falsa água, luz negra.

A escuridão dos bons que lutam,

As mães que ficam e os filhos órfãos.


Sorrir em meio a guerra, suprema

A vida que corre em meio as vêias.

A angústia que sobra, na interna

Dúvida de nossa falta de fé.


Homens de um século descrente,

Serão vós sábios ou outra vez

Centenas de homens manipulados?

Terão vós vontade de sobrevivencia?


O suficiente para continuar e lutar.

Sob paus e pedras, em toda direção,

Vidro ensangüentado pelo chão.

Homem sábio de que te vale viver?


O que tens nas mãos não te dará eternidade,

Mas os teus ideais, a glória alcançada

Não termina em tua morte, em tua queda.

As lágrimas podem ser dolorosas,


Por que amor resulta a saudade,

Mas tudo que é puro e real

Perdura por toda a eternidade.

Multiplica teu valor, HONRA-TE!














Rosa - E.W.

Eu não serei, jamais a tua rosa colorida

Que os insetos vêem polinizar.

Eu não serei a fonte do teu perfume,

Nem mil botões irão te agradar.


Claros teus olhos irão observar

Que de todas as rosas sou única,

Meu caule não pode se quebrar.


Mas eu serei a mais resistente,

Nestes dias de longas chuvas,

Dias de sol e tempo quente.


Por que eu nasci no solo mais instável,

Menos preparado, mais atacado.

Sem botões nem ramos, a rosa estéril.


A rosa poeta, eu sou a rosa que te cala.








terça-feira, 5 de outubro de 2010

Holocausto verdadeiro é escondido

Por aqueles focados no capital

Nas pessoas inocentes, causando o mal

De seus corações,o amor é banido



Palestinos com corações destruídos

Para os destruidores, ferir é normal

Acabar com a dignidade é fatal

Alegram-se em ver corpos doloridos



Aos muçulmanos, bastam os sofrimentos

De ver seus irmãos naqueles tormentos

Muitos sonhando e rezando pelo fim



Deus, conceda-lhes o paraíso eterno

Aos sujos de alma, lançai-os no inferno

Sabemos que haverá justiça enfim