"O amor quer o monopólio das faculdades da alma." Schiller

terça-feira, 21 de junho de 2011

Versos de Nietzsche

"Depois de sentir-me cansado em procurar
Aprendi a encontrar.
Depois de um vento ter-me feito resistência
Navego com todos os ventos."

"Onde quer que estejas, cave profundamente!
Em baixo está a fonte!
Deixe os homens sombrios a gritar:
- Em baixo é sempre o inferno!"

"Não fiques em terreno plano.
Não subas muito alto.
O mais belo olhar sobre o mundo
Está a meia altura."

"Sim, minha ventura quer fazer felicidade;
É isso que deseja toda a ventura!
Quereis colher as minhas rosas?
Baixai-vos então, escondei-vos,
Entre rochas e espinheiros,
E lambei muitas vezes os dedos!
Pois a minha ventura é maligna!
Pois a minha ventura é pérfida!
Quereis mesmo colher as minhas rosas?"

"Abandono muitas coisas,
Deixo-as correr ao acaso,
E por isso dizeis que sou desdenhoso.
Quando se bebe em copos muito cheios
Deixa-se cair muita bebida,
Nem por isso continueis a considerar o vinho pior."

"Se não queres cansar os olhos e os sentidos,
Segue o sol pela sombra!"

"É necessária a ferrugem: não basta ser afiado!
Senão dizem sempre de ti: É muito novo!"

"Lançou uma frase no ar ao acaso,
Para se divertir,
Essa frase, porém, fez cair uma mulher."

"Não te enchas de ar:
A menor picadela te esvaziaria."

"Toma a mulher por quem bate teu coração.
Eis o que pensa um homem; a mulher não toma, rouba."

"Terminou o atalho! Somente abismo, silêncio de morte!"
Assim o quiseste! Pois deixaste o atalho!
É o momento! Caminhe! Mantenha o olhar frio e claro!
Estarás perdido se acreditares no perigo."

"Sim, o seu olhar é sem inveja: e é por isso que o honrais?
Preocupa-se pouco com as vossas honras;
Tem o olho de águia, olha para o que está longe,
Não nos vê!... Apenas vê os astros e as estrelas!"

"Toda a felicidade existente nesta terra,
Vem da luta, amigos!
Sim para nos tornarmos amigos
É necessário o fumo da poeira!
Os amigos só serão em três casos:
Serem irmão na miséria,
Serem iguais diante do inimigo,
E livres... diante da morte!"

"É à gloria que aspiras?
Nesse caso considere esta lição:
Renuncia a tempo e espontaneamente
À HONRA!"

"Estrangeiro ao povo, mas útil
Sigo meu caminho, faça sol ou névoa...
Sempre por cima deste povo!"



NO SUL

Eis me aqui neste ramo torto,
A balançar o meu cansaço.
Um pássaro me convidou como hóspede,
Um ninho de pássaro me abriga.
Onde estou então? Tão longe, muito longe...

O branco mar adormeceu,
E vela purpúrea jaz sobre ele,
Uma rocha, figueiras, torre e oporto,
Idílios ao redor, grasnar de patos...
Acolhe-me, inocência do Sul!

Caminhar passo a passo não é vida,
Marchar continuamente parece alemão e pesado.
Disse ao vento que me levasse,
Ensinou-me o pássaro a plantar...
Passei sobre o mar, voando para o Sul.

Razão! Ó razão importuna!
Levas-nos demasiado depressa ao nosso fim!
Mas ao voar, aprendi o meu limite...
Já sinto coragem, sangue e novas seivas
Para uma vida nova, e para um novo jogo...

Pensar sozinho é sabedoria para mim,
Mas cantar sozinho... seria estúpido!
Ouvi, pois, uma canção em vosso louvor,
E fazei silêncio ao meu redor,
Pássaros danados!

Tão novos, tão falsos, tão versáteis
Pareceis-me feitos para o amor
E para todos os belos passatempos?
No norte - exito em confessá-lo -
Amei uma velha assombrosa:
Chamava-se "Verdade".